terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Transformações pós Câncer


Esta semana, minha mulher parou no restaurante Frango Assado e como ela sabe que eu gosto de ler, comprou um livro, aleatoriamente, para mim.

O livro é "A vida é um milagre" do Eduardo Shinyashiki.   Por coincidência, este livro conta uma história de uma pessoa que teve Câncer no cérebro e passa por uma profunda transformação interna.

Embora o livro seja uma ficção, lendo, me identifiquei muito em vários pontos, apesar da velocidade das coisas serem mais lentas do que a do livro.

Fiquei me questionando, o que uma experiência como o Câncer traz, ou pode trazer em nossas vidas.

O contato com as realidades Vida-Morte traz determinadas reflexões que podem mudar o ponto de vista pelo qual enxergamos as coisas.

Você começa a se questionar: De que adianta viver como vivi, trabalhando tanto, se preocupando com determinadas questões, se no fim, a gente não vai levar nada deste mundo.

Apesar de parecer um chavão esta afirmação, o fato é que sempre a morte está muito distante e por isto estas questões e reflexões são sempre postergadas, mas quando você tem câncer, e principalmente no começo, naquela fase do desespero, a questão vida-morte é muito presente.  Depois, com a evolução do tratamento, as coisas vão se acalmando e a gente acaba lidando melhor com isto.

Porém, uma situação uma vez vivida e sentida, nunca mais é a mesma, e o paciente de câncer sabe que a vida se mostra agora na sua real perspectiva, a de que somos pó e ao mesmo tempo seres espirituais.

A finitude da vida que se apresenta, traz a exata noção dos "erros" que cometemos em viver uma vida automaticamente (como todos vivem) e o valor real que a vida tem, nos seus mínimos detalhes, que muitas vezes deixamos passar despercebidos.   Surge então, uma forte vontade de viver, de valorizar cada momento da vida, de sentir, de agir, de maneira diferente, mais aberta, mais verdadeira, procurando novos valores. É preciso ganhar mais com menos. Ou seja, as coisas internas, a família, os relacionamentos passam a ter mais valor do que o resto.

Por outro lado, a questão da espiritualidade também desabrocha nas pessoas que tem esta tendência. Sob o peso de uma doença, que muitas vezes não depende exclusivamente de nós mesmos, sentimo-nos fragilizados, começamos a perceber a fragilidade da vida e do ser-humano. Toda a arrogância e orgulho que temos cai por água abaixo.

Percebemos a necessidade de pedir um auxílio a uma força maior, alguém que nos dê ânimo para continuar esta jornada, esta luta tão difícil e demorada que se chama Câncer.  Naqueles que tem fé, então uma nova comunicação se estabelece entre a pessoa e Deus.

Não é mais aquela comunicação leviana, dispersiva, mais um forte contato com o seu próprio mundo interior, uma vontade muito grande de avançar na senda da espiritualidade.   Aquela busca interior, que sempre existiu, agora se torna mais intensa ante a necessidade e os momentos de dificuldade.

Também as reflexões de Quem sou Eu?  Para onde vou?  Aliados a perspectiva de ter enfrentado o fantasma da morte, traz a certeza que um dos principais motivos de estarmos na Terra é sabermos responder a estas perguntas e uma vez respondidas, integrá-las ao nosso cotidiano.

Enfim, situações limites, como guerras, câncer, doenças terminais, catástrofes, etc.. tem o poder de alterar o nível de consciência da pessoa e levá-la a viver novas realidades.  São caminhos que podem ou não ser percorridos, pois depende da vontade de cada um.

Ninguém vai virar santo porque teve câncer, mais é justo que uma doença desta marque a vida da pessoa, colocando um novo ponto de partida, uma nova referência, onde se Deus quiser a pessoa pode viver uma vida muito mais Feliz....



Um comentário:

  1. Oi, Felipe. Gosto muito do Shinyashiki, possui uma visão objetiva e um olhar mais amplo sobre a vida. Interessante: uma das questões mais relatadas por quem passou pela experiência de ter uma doença grave e fatal é a reflexão sobre a morte. Cada um a seu modo, começa a ver a morte como uma consequência natural da vida e a constatação da própria finitude revira-nos por dentro, redifinindo como viveremos o tempo que nos resta sobre o planeta. Também experimentei isso e acabei me tornando uma pessoa mais humilde, mais centrada, menos estressada e mais leve. Com você está acontecendo o mesmo e isso é avanço. Muito bom! Beijos, Angela

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